=Conversas de Bar=

Assuntos despolarizados, desconexos, filosofias sem muito fundamento (ou com fundamentos, caso você tenha noção do que diz), minhas crônicas, crônicas de outros, poemas meus e de outros, desabafos, sugestões, crítícas, histórias de trem, do trólebus, do dia-a-dia ou puramente conversa de bar... Puxe uma cadeira e aprochegue-se!

sábado, março 28, 2009

"Sinal de Adeus" - Isabella Taviani

"Vai dizer que o nosso amor desafinou, perdeu o
prumo,
Desaguou num rio seco e morreu
Vai tentar fazer comparações com outras relações
do teu
Passado, árduo fardo que carrego eu
Vai buscar me convencer que nada
Pode alterar o rumo dessa estrada
Vai alegar que já fizemos tudo, tudo já foi dito e
revisto niente muda o fato, acabou
Pegue as suas coisas, desarruma as minhas, dá um
jeito nos cabelos, lava o rosto, num sinal de adeus
Mas nas últimas palavras beija a minha boca
Desesperada agarro tua roupa
Meu amor não vai me convencer que já não me
quer
Olha nos meus olhos sou tua mulher
Vem me fazer sentir como ninguém mais pôde
conseguir
Teu lugar é aqui"

"Pontos Cardeais" - Isabella Taviani

"Eu acreditei no teu amor, no teu querer
nos teus sinais
Na dor do teu olhar com medo de não me
ver mais
Mas entendi que nós dois somos pontos cardeais
Ligados por um fio imaginário
Mas sempre distantes demais
Eu então me perguntei
Até onde posso suportar?
Até onde quero e me permito violentar?
Pois te amar tanto assim lhe convém
Mas me sangra tão bem
Você parece estar à sombra de uma árvore
Enquanto eu saio pra lutar ao sol
Você parece repousar
Num transatlântico de luxo
Enquanto minhas mãos
Fazem bolhas de tanto remar
Então porque já não me diz adeus
Pra eu parar de cantar"

sábado, março 21, 2009

A dor que dói mais

"Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o escritório e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua pintando o cabelo de vermelho. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango assado, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Pepsi, se ela continua sorrindo, se ele continua dançando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está com outra, e ao mesmo tempo querer. É não querer saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo querer. É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim, doer."


(Martha Medeiros)

"É ali... bem ali, quando nada mais é possível, nem mesmo um passo. Aliás, um passo é um esforço sobrehumano...
todas as forças se esvairam... nenhum ânimo à espreita...
nenhum sol aquece o suficiente, nenhuma tempestade é destrutiva o bastante... nenhum veneno é tão mortal quanto o preciso...
é ali, quando o desespero já se tornou quase nada, de tão ínfimo, se comparado ao sentimento-peso que carrego... quando a beira do abismo já deixou de ser assustadora e, ainda assim, depois de pular, saltar para o fim, descobre-se que o fim (inexistente) do abismo não lhe traz a tão esperada paz...
Fechar os olhos, dormir, descansar para sempre. Para nunca mais sentir. Nem lembrar. Nunca mais lembrar.
Nunca mais lembrar o quanto foi bom. E nunca mais ter uma lembrança que me faça sentir mais!
Sim, porque já basta o que sinto, a todo momento, a todo instante, ininterruptamente. Quando a loucura já não traz nenhum alívio. O corpo, a mente acostumou-se completamente à insanidade que me toma, e essa esperança de torpor já não traz alívio algum. Quando a loucura já não é o suficiente para desligar meu fio da tomada. Não mais.
É ali... bem ali... nesse instante, quando nem o desespero, nem o falso esquecimento, nem o fundo do abismo, nem o alçapão... nada disso mais me permite mesmo ter a esperança do alívio. Lembranças nocivas de momentos nocivos que me perseguem, que se tornam parte inerente da minha mente, e já não me permite, de maneira alguma, me desligar.
Descanso que tanto anseio.
Ah... esperado sono, escuro, nada, o que seja, que me trouxesse o alívio de não ser. Nem de lembrar...
Nunca mais manter esse corpo animado de mente inanimada... sepultar de vez este coração morto que trago no peito...
Nunca mais ser. Nem lembrar."

Aline Gobeti

sábado, março 07, 2009

EU TE AMO
(Antonio Carlos Jobim & Chico Buarque)

"Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que ainda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato ainda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Meus seios inda estão nas tuas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir"