=Conversas de Bar=

Assuntos despolarizados, desconexos, filosofias sem muito fundamento (ou com fundamentos, caso você tenha noção do que diz), minhas crônicas, crônicas de outros, poemas meus e de outros, desabafos, sugestões, crítícas, histórias de trem, do trólebus, do dia-a-dia ou puramente conversa de bar... Puxe uma cadeira e aprochegue-se!

domingo, fevereiro 17, 2008

Meus medos

"Dou início sendo muito sincera
enquanto espero a compreensão,não apenas como um anelo,
porque quero dizer tanto em tão pouco
desejando me fazer ouvir por teu coração.

Porque tenho medo de, apressando meus passos,
nunca retardes o teu;
porque minha vivência é tão pouca, quase nada,
comparada à tua;
porque, enquanto em outros leitos de deitaste,
nunca estive nua;
porque quando teus lábios já desvirginas-te
eu, nem sequer, percebera a Lua...
Tenho medo que se faça próxima a distância
e, por qualquer inconstância,te afastes de mim.
Me deixando assim
sem eira nem beira
depois de haver-me conduzido por boa parte do caminho.
Nebulosa expressão que o medo traz à minha frente
quando, por receio somente, me domina o temor.
Ainda que meu amor seja grande,
mais involuntário é meu pensamento
quando, num só momento,me apavora e dá alento.
Tua vida não quero emperrar
nem teus sonhos, violentar
e teus desejos não intento abafar.

Eu te amo e não quero vê-lo ir embora;
não quero deixá-lo, nem depois, nem agora.
Serei tua e tudo quanto possuo será teu.
Apenas te peço que retardes um pouco o teu passo
para que eu possa apressar o meu."

Aline Gobeti

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Marionete

" Eu sinto medo de ti
Medo das barreiras que me impões, sem palavras
e que meu coração interpreta angustiado
nas entrelinhas do que não dizes.

Eu sinto medo de ti
tua doçura é névoa tênue e traiçoeira
a esconder muralha férrea, com a qual me choco
tantas vezes, entre perplexa e aparvalhada.

Eu sinto medo de ti
porque és todo razão, autocontrole e frieza
Jamais te soltas e te desmanchas em paixão
e às vzes és de uma dureza à prova de qualquer compaixão.

Eu sinto medo de ti
porque és capaz de desnudar-se de todas as camadas,
deixando-me quase em carne viva,
enquanto não perdes sequer um apelo,
a pele ou o vício de lobo predador, velho de guerra,
conhecedor da minha e da alma de tantas mulheres

Eu sinto medo de ti
porque sonegas os "backs"de todos os meus "feeds",
e negas respostas às perguntas cruciais
Me tens nas mãos feito marionete,
me confundes e me desmontas sem nenhuma culpa,
como se minhas dores fossem banais...

Eu sinto medo do amor que me despertas, tão grande e visceral.
Sinto medo da amplidão de todas as minhas expectativas.
Sinto medo da mágoa, que intensa, caminha paralela ao meu amor;
Dos extremos, da luz e da escuridão, do céu e inferno,
dos tantos alto e baixos que permeiam cada capítulo e cada cena do nosso roteiro. (...)"

Abandono

Por você, eu abandonei meu amor próprio,
mantive cativa a minha vontade,
controlei minha impulsividade.
Por você abandonei meu pára-quedas e finquei meus pés no chão,
mantive meus princípios embaixo do colchão,
controlei minha espontaneidade.
Por você abandonei amizades,
mantive na gaveta minha popularidade,
controlei minhas saudades.
Por você, também, fechei meus meus olhos e confiei,
mantive esperança, acreditei,
controlei minha tristeza e insegurança.

Por você eu esperei,
quis,
desejei, lutei,
vesti, investi e resisti,
dormi, sonhei, acordei.
E quis mais.

Por você, abandonei a mim.
Mantive-me num silêncio sem fim
controlei meus desejos, por mais que estivesse afim...
Mas também foi por você que, para a realidade, eu acordei...

De te querer eu nunca deixei,
sigo te amando,
e querendo
e desejando.
No entanto, dói demais querer-te tanto assim.
Dói porque eu te quero
e você nunca vem a mim.
O pouco tempo que lhe resta
(admito pouco) nunca me inclui,
ainda que disponível eu sempre fui
tu te denuncias que minha parte em tua vida
é preencher a lacuna que sobra
na falta do que fazer.

O mundo é imenso
e o tempo, não é uma eternidade
quando se quer correr atrás de seu desejo.
Logo, eu reconheço:
há muito você não me quis.
Em seus braços fui feliz,
ainda que pouco estive contigo
Ou porque estava com teu amigo,
ou em tua lida,
cuidando de tua vida
(na qual sequer estiver incluída),
lavando o carro,
me tirando o sarro...

Vou andando,
vou andando e ainda te amo
mas não posso ficar.
Agora que sei que para sempre ficarei à te esperar,
te amando e esperando,
amando e esperando...

Ironia,
procuro agora o que me faça te esquecer.
Começa a anoitecer,
o dia logo surge, a clarear.
Trabalho, corro, canso, não durmo.
Sumo.
Procuro formas de não te lembrar.
Talvez guardá-lo, com carinho, na gaveta de um passado
que não pretendo resgatar.
Tento jogar essa toalha para o alto,
olhar pra outro lado.
Um lado onde você não esteja...
Mas eis o erro: não é você, propriamente, quem deve desaparecer
pois já nunca está aqui.
Meu coração é que deve esquecer,
tanta tristeza e solidão já não posso carregar,
devo partir dessa plataforma,
pairar em outro lugar;
um lugar que não me lembre de você,
um lugar onde eu consiga não te esperar,
nem te amar...

Aline Gobeti

A prateleira de cristal de cada um

Todo mundo tem uma. Assuntos que devem permanecer guardados, não tocados.
De longe podemos enxergar a placa "NÃO TOQUE".
Alguns episódios da história alheia é, como diria o ex-ministro Rogério Magri, "imexível".
Outras vezes a gente só percebe a advertência depois que a conversa já enveredou pelo caminho proibido.
Aí, corre-se o riso de, não somente ter a conversa encerrada (o que, por si só, já é bastante desagradável) como também, não raras vezes, relações cortadas!
Aquela desavença com os pais, a morte de um ente querido, a demissão do emprego, o fim do relacionamento... mesmo aqueles que dizem ter a vida como um livro aberto também têm os seus capítulos censurados e suprimidos. Ninguém escapa.
Tentamos esconder esses assuntos, cristais tão frágeis, atrás de outros menos embaraçosos. Com sutilezas ou sorrisos amarelos desvia-se a conversa toda a vez em que periga chegar perto "daquele" assunto.
Contudo, seeempre existem pessoas indiscretas, maldosas ou simplesmente sem-noção. Aquelas desatentas das boas maneiras que gostam de fuçar no baú que não lhe pertence.
Alguns são adeptos de insistir em tocar na ferida alheia, acreditando que a pessoa querida deve, à todo custo, encarar o espelho, sacudir a poeira e bola pra frente.
Pode não ser tão simples assim. Cada um é cada um, com suas limitações e ritmos próprios. Gerlamente essas prateleiras são mais reforçadas, dada a fragilidade do que guarda.
Além da possibilidade de fazer um bem, em contrapartida é arriscado machucar ainda mais. Afinal, cada um sabe que a simples visão dos seus cristais é o suficiente para remeter-se à cortes antigos, recordando o quanto feriu, ardeu.
Meu conselho? Bem, se é que devo me pronunciar à respeito, sugiro que cada uma averigue primeiro a estrutura do armário onde pretende mexer.


Aline Gobeti

Pérolas de nossa viagem (algumas das que eu me lembro)

Cris: "... porque a cachoeira é uma bela construção..."

Tita: falando para a Leiri: "Ah, tá, sua mãe é a irmã do seu tio..."

Cris: "Eu tô indo bem?"
Tita responde: "Você não tá ouvindo bem? "

Aline: "Como se chama as minas que ficam no pedágio?"
Cris: "Eu não sei...
Äline: "Deve ser pedagista, né...."

"Pedagista": "Boa viagem"
Cris responde: "Pra você também!"

Tita: "Ai! Putz, eu acho que esqueci a câmera fotográfica em casa! não acredito, viu!"
3 horas depois...
Tita: "Nossa! Achei a máquina!"
(Tita estava sentada sobre a máquina. O tempo todo.)

Dia 21/01/2008, segunda-feira
Tarde cinza, com céu super carregado. O lado da cidade contrário às cachoeiras, onde fica o clube da cidade, mostrava um tímido solzinho. Otimistas ao extremo saímos de casa com biquini. Vaporosas.
Boom! Chuva. Mentira! Uma tempestade.
Bares? Fechados.
Bar do camping? É um pouco mais longe, mas vamos tentar.
Fechado.
Chuva aumenta, mais e mais. E sempre mais.
As três donzelas, dentro do carro, com biquini, óculos de sol e empolgação, debaixo do telhado do bar (que estava fechado), Só não tinha sol. Mas tinha muita chuva.
Nem mesmo era possível sair dali, porque o caminho era td feitos de terra. E estava cheio de água.
Até que pensamos numa diversão, pra passar o tempo ali, dentro do carro: vamos tirar fotos!
Uma curta sessão e a pilha acabou.
Bom... resta ainda o CD do Zeca Baleiro tocando e a gente conversa, apesar do desânimo.
A chuva não passa nunca mais.


Li, Cris e Tita

Melhores momentos de uma viagem

Férias.
Viagem com duas amigas.
Eu, Cris e Tita. E uma prima da Cris que só embarcou na ida.
Dividimos gasolina e todos os gastos. Até o pãozinho nosso de cada dia. Aliás, o olho da cara! Onde já se viu! R$ 2,40 um mísero pãozinho?! Coisas do interior.
Mas as cachoeiras e as risadas, até mesmo os sustos, fez todo o demais valer a pena.
Sustos? Siiiimmm. Um sustinho básico, onde apenas nascemos de novo. Bom, pelo menos a Tita e eu, que não sabíamos nadar. A Tita ainda sabia boiar, pelo menos. Mas acho que com o susto, a Cris também nasceu de novo.
"Dá pé! não tem problema! Dá pra ficar embaixo da queda, deixando a água cair nas costas! Hum, é uma massagem!" Ok, se dá pé, então tá tudo certo. Vamos, né!
Detalhe: em nossa viagem de 5 dias, choveu todos os 5 dias. O último foi molhado por uma garoa leve, mas, ainda assim, não deixava de ser chuva.
Fomos para a cachoerinha, com a queda pequena, que dá pé. Sem problemas. Dava até pra sentar embaixo, veja só!
A correnteza estava, no mínimo, violenta. Mas tudo bem, o importante é que dava pé. Qual não foi a nossa surpresa ao descobrir, quando chegamos perto da queda (sim, aquela que dá pé) que, devido às chuvas, creio, as pedras, simplesmente... afundavam! As pedra até davam pé, mas esse mesmo pé ia para baixo logo em seguida! E com elas, eu e a Tita. E com a gente, o susto da Cris também baixou.
Questão de segundos, tudo muito rápido, "Segura em mim", "Fica nessa pedra" "Vai salvar a Tita!", "A gente tem que contornar a correnteza!"... Exceto pelo som ensurdecedor da água, em nós três reinava o silêncio. Silêncio de susto, silêncio de meditação, não sei o que se passava na cabeça delas, exatamente, mas creio que era algo do tipo: "Essa foi por pouco".
O importante é que tudo deu certo. Claro, pra finalizar, eu tive uma pequena queda quando todas estávamos à salvo, mas algo que, somente, rendeu risadas. Mais.
Porém, na retrospectiva dos fatos, lembro-me, claramente, que na aflição de sairmos dali, inteiras, e não sermos levadas pela correnteza, atravessamos de um lado ao outro, de mãos dadas, em círculo. Ver que a nossa vida estava ali, por um fio... Ou melhor, por muitas gotas, dá um medo sem proporções; porém, nesse momento, a gente percebe o quanto a cumplicidade serviu-nos de proteção. Em meio à toda aquela correnteza, a força de nossa amizade foi o amparo que nos envolveu. E nos carregou até a outra margem. Sãs e salvas.
Sim, na hora foi desesperador. O importante é que agora nos faz rir.

Aline Gobeti