=Conversas de Bar=

Assuntos despolarizados, desconexos, filosofias sem muito fundamento (ou com fundamentos, caso você tenha noção do que diz), minhas crônicas, crônicas de outros, poemas meus e de outros, desabafos, sugestões, crítícas, histórias de trem, do trólebus, do dia-a-dia ou puramente conversa de bar... Puxe uma cadeira e aprochegue-se!

quarta-feira, março 28, 2007

Além-vida

"Existência vazia
carente de valor.
Onde já nada existia
agora traz em si também a dor.
Procurando por um estímulo,
um incentivo, que seja,
para dar, após um, sempre outro passo.
Compreensão a minh'alma almeja
enquanto em lágrimas eu me desfaço.
Quisera estar distante,
de fato não lembrada, esquecida, já substituída
porém, cá permaneço,
enterrada viva nessa cova de carne humana,
carregando a maldição de uma mente insana.
Meu espírito esqueceu de partir
e meu sopro de vida continuou aqui..."

(A.G)

Se não doesse tanto morrer...

Se não doesse tanto morrer
matava-me agora mesmo.
Nesse instante.

Ah... se não doesse tanto morrer...
Mas não é a morte que tanto dói-me;
é livrar-me das lembranças.
A idéia de perder minhas lembranças,
única bagagem de que disponho
é o que mais corrói-me
a alma.

Ah, se não doesse tanto morrer...
...dava cabo de mim e de tudo o que me pertence.
Não a vida; as lembranças.
(a vida nunca me pertenceu)
Antes, foi d'aquele ou dela que me deu
sem nunca ter-me dado, de fato.
Mas as lembranças...
tudo o que vi,
o quase nada que vivi,
o mundo que senti...
é tudo quanto tenho para mim.

Se me fosse concedida a coragem de me despedir das lembranças
dava cabo, num instante, do nada que vivo.

Ah, se não doesse tanto morrer...
mas dói-me mais esquecer.
O corpo já não importa, nunca foi meu.
De quem o manejou, ou deu.
Deu emprestado para, minhas lembranças, conter.

Lembranças
reais ou imaginadas?
Se imaginadas, de tão reais, foram acreditadas.
Sendo, hoje, tudo quanto possuo.
Meu? nada tenho. Apenas o que trago em mim.

Ah, se não doesse tanto morrer
matava-me agora mesmo, dando cabo de mim.
E fim.

(AG)

terça-feira, março 27, 2007

Calem-se!

Calem-se!
Calem-se todos!
Calem os corações vibrantes, as vozes interiores, as músicas dançantes, os risos empolgantes e debochados.
Silenciem os pensamentos (inclusive os meus); que sejam erradicados todos os sons que perturbam meu sono eterno.

(AG)

quarta-feira, março 14, 2007

Cansaço

Não consigo te acompanhar
Tento correr pra te alcançar
mas seu rastro vai se apagando
e eu já não sei aonde pisar.
A cada tijolinho que acrescento em nossa construção
é sempre dois que você está a tirar com a mão.
Tento, tento, tento
faço de todo o possível para estar por perto,
para que carinho nunca venha lhe faltar
mas não acerto,
não acompanho seu desenrolar
e fico só.
Te espero, mas você nunca chega
e eu continuo a esperar.

Só sei me doar
enquanto sua ateñção está em outro lugar.
Reflito,
e chego à conclusão que devo mudar.
Quem sabe assim, te faço me notar.

Opostos,
enquanto eu te quero, você brinca
te procuro, você foge
me declaro, você silencia...
À cada vez que me esforço para tê-lo em minhas mãos
você me escapa para longe,
tão distante...

À mim, sua vida é tudo de importante,
seja seu trabalho, seu dia,
o carro que você queria,
o que pensa, sente
ou, simplesmente, o que nas férias você faria.

mas, se te procurando, Não posso te encontrar
e querendo, não posso lhe ter
com suas cartas passo à jogar
e te esperando, deixo de esperar
e te querendo, cesso de ansiar.

Quando puder ver-me
ou se quiser aparecer, não ligue,
não me circunde,
nem pergunte à quem me conheça.
Simplesmente, apareça.
Me faça uma surpresa.
Diga que estava passando, o dia tá uma beleza,
muito quente,
bom pra tomar uma cerveja.

Quando em seu tempo sobrar um segundo
talvez você se lembre de todo o meu sentimento profundo,
que te guardava em mim,
apareça e diga assim:
'que se lmebrou de mim'
certamente, eu vou lhe sorrir
e todos os abraços que não lhe dei
ainda estarão aqui.
Mesmo que, em diferentes sentidos,
sempre tentei te acompanhar.
No entanto, nesse caminho quase todos os
sorriso, beijos e abraços, confidencias, planos foram perdidos.

Agora me vejo indo em sua mesma direção
contudo, ironicamente sinto um aperto no coração
vendo-me cada vez mais distante,
crescendo entre nós um abismo gigante
que, talvez sim, talvez não
nunca venha a ser uma chance
para se construir uma ponte...

Dos beijos que, te dar, eu quisera
e de toda a produção que , em mim, eu fizera
(e você nunca viu)
de todos os abraços que meus braços cansaram de esperar,
de todos os carinhos que ardendemente desejei lhe fazer,
(e, no entanto, não pude nem tentar)
e as batidas que meu coração quis acelerar...
...restaram para mim as lembranças do que teria sido,
sentido, vivido...
Você nunca soube e, provavelmente, nem saberá
porque, enquanto eu te espero,
você só está a correr
e eu jamais sou uma opção do que você pretende ver...

(A.G)

Expectativas...

Expectativas...
Porquê elas se criam?
Na mente humana brotam
fazendo-nos esperar tudo o que jamais devia ser esperado?

Depois de tanto exercício, nada mais espero
daquele que se posta à minha frente,
desconheço sua mente,
ignoro sua intenção, nem quero saber de seus desejos.

Esse que está diante de mim,
me é um papel em branco,
a espera de ser preenchido.
Assim sempre devia ser.
Evita o meu sofrimento, a grande decepção
que, embora sem razão, sempre deixa marcas em meu coração.
Desprezo d'onde veio, o que pretende ser,
o que viu, o que pode saber.
Daqui em diante posso conhecer,
descobrir o seu caminho,
se acompanha ou se vai sozinho.

Quisera! todos estivessem livres das expectativas.
Dessas esperas sem fim
que, cedo ou tarde, nos abre um absimo.
Procura o que não existe
em alguém que nem sabe quem pode ser.

Como Chico, eu também já "conheço as pedras do caminho";
portanto, evito tropeçar novamente
quando sei que, inevitavelmente, isso acontece
nessa estrada "que eu já sei de cor"...

(A.G)

Falsos grilhões

Não quero escrever para ninguém
além de mim
Terei eu forjado minhas próprias marcas
ou serão o resultado
do que a minha vida me reservou?
Existe um caminho que alguém traçou?
Ou será pura e simplesmente
o desenrolar dos caminhos
à que meu andar me levou?
Para aquilo que está além de minha compreensão
eu preciso de uma explicação...
...não posso mais...
Não é possível fingir mais
que nada acontece;
Trago em mim uma angústia rouca
que nunca desaparece;
vapor nas paredes de minha mente,
que nunca desvanece...
Lágrimas já não existem...

Quando foi que eu morri?
Como isso se deu e eu nem precebi?
Quem não teve o préstimo de me enterrar
dando-me ao corpo, também, um descanso?
Porque ess estado não trouxe-me
um torpor manso à tomar meu corpo
afastando-me de toda essa aflição?
Quem teria o desplante,
maldade sem proporção
de matar-me, permitindo que eu viva para o saber?
Privar a vida de uma coração já não seria o bastante
para, além disso, poupar-lhe também o gosto de morrer?
Volto-me, instintivamente, para mim.
Observo, observo, observo...
...o que acontce nesse túnel vazio
porém, sem fim?
Onde estarão escondidas as várias versões de mim?
Quantas haverão lá dentro
para serem, não sendo,
tantas
e causar um alarde surdo
e tamanho?
Foram tantas de mim que sufoquei,
às vezes, tão violentamente
que agora já não as diviso.
Escondem-se em todos os recantos obscuros
deixando rastros de seus sentimentos
astutos
com os quais, um desespero, eu faturo.
Pensamento que vêm e somem;
seria eu um Golem,
matéria sem forma,
corpo sem alma?

Para tal, a aflição que me adorna
e por mais que eu procure
nunca encontro a paz e a calma...!
Tão profunda quanto a Cordilheira do Atacama
é a voz que me clama
lá no íntimo de mim
revolvendo toda a inquietação
deixando-me à beira da alucinação
quando, em meio à todo o silênio,
ouço o grito imenso...

...Ainda não discerni as palavras que flutuam
no íntimo de mim,
no sussuro da vida que, em mim, pede para ser ouvido.
Preciso atender à consciência que clama por libertação."

(A.G)

Lya Luft

"Ouço as pessoas falarem: 'No meu tempo...' Ora, só se conta o tempo da juventude? Esse pequeno cacoete de linguagem mostras que a gente só se vê inteiro quando é moço"